A divina lei de testemunhas
exige que o evangelho seja proclamado de dois em dois. Na realidade, somado ao
testemunho do Espírito Santo - sempre há três testemunhas da verdade.
Raramente na missão um missionário fica sozinho (o
que pode acontecer numa viagem, entrevista com presidente de missão ou outra
situação extraordinária). No Centro de Treinamento Missionário (CTM), todo
élder e sister[1]
recebe um companheiro, com a regra de que deve sempre manter o companheiro a
vista, de modo a poder ouvi-lo sem dificuldade. Quando o companheiro vai ao
banheiro é recomendado que o companheiro aguarde na porta. Algumas vezes os
missionários realizam "divisões". Elas não são comuns no CTM, mas
ocorrem na missão. Consistem em trocas esporádicas de companheiro (que duram no
máximo 24 horas) - e ocorrem para realização de treinamentos e entrevistas
batismais. Há também divisões com membros da Igreja, que acontecem de vez em
quando para expandir o trabalho e abranger maior efetividade no serviço.
Assim, pode-se dizer
que, em geral, um missionário sempre vai estar na companhia de outro
missionário, em todo período que estiver servindo.
Devo também mencionar que o companheiro que se recebe
no CTM não é o mesmo para missão toda. Quando o missionário chega no campo um
novo companheiro lhe é dado, um bem experiente - chamado de treinador. Esse missionário treinador
vai permanecer com seu "filho" ou "verdinho"[2]
por três ou quatro meses, e depois ocorrerá uma transferência. Transferência é uma ocasião em que um missionário
troca de companheiro, porque é transferido para uma outra área geográfica da
missão, ou porque seu companheiro o é.
Contanto com o companheiro do CTM tive no total treze
companheiros. E você, se servir pro dois anos, vai ter por volta desse número
de companheiros também. O companheirismo é uma importante característica do
serviço missionário e é através dos companheiros de missão que algumas das mais
importantes lições são ensinadas a um missionário. Foi assim comigo, e estou
certo que é assim com todo missionário.
Companheirismo é uma bênção. Mas nem sempre um
missionário reconhece isso. Há ocasiões em que um missionário pode pensar que
seu companheiro não foi chamado por Deus, ou ao menos, não deveria estar na
missão. A realidade é que alguns companheiros representam um desafio peculiar,
e exigem muita paciência e fé do missionário.
Neste capítulo mencionarei algumas experiências sobre
companheirismo. Espero que a importância do companheirismo seja revelado
enquanto falo e que isso ajude de alguma forma os missionários que tenham
desafios com seus parceiros a adquirirem uma nova visão.
Meu companheiro durante o CTM
Queria poder dizer que nunca tive problema algum com
um companheiro, que me dei bem com todos. Mas isso seria uma mentira. Não foi
assim. E creio que não é assim para a maioria dos missionários. Há diferenças entre
os companheiros. Diferenças naturais decorrentes da criação, da
personalidade, da aparência, da língua,
da região, da conversão ao evangelho, do tempo de Igreja - enfim, há uma série
de pontos culturais e espirituais que diferem entre uns e outros. Conviver com
uma pessoa, 24 horas por dia, significa muitas vezes tolerar essas diferenças,
sendo paciente, misericordioso e submisso.
O fato é que o sucesso do trabalho missionário começa
com o sucesso no companheirismo. Assim sendo, os missionários não enfrentam
apenas oposição pelas diferenças naturais - mas tentações que motivam a
discórdia, rebelião, egoísmo, orgulho, inveja e maldade. Se o diabo conseguir
destruir uma relação de companheirismo prejudicará a obra - porque missionários
"azedos" não possuem o espírito de Deus para ensinar o evangelho.
Quando recebi meu companheiro percebi diferenças
entre nós. Mas eu sabia que tínhamos pontos e comuns: tínhamos o evangelho,
tínhamos um chamado missionário, estávamos longe de casa e indo para mesma
missão.
Meu companheiro era novo na Igreja, mas essa não era
a questão. Conheci muitos recém-conversos que foram para missão e tinham um
forte testemunho do evangelho[3]
(até fui companheiro de um élder que tinha apenas um ano como membro e era
espetacular em seu serviço), muitas vezes superior aos que haviam nascido sob o
convênio. Mas meu companheiro não era convertido. Percebi isso porque ele não
estudava o evangelho (nem tinha interesse em fazê-lo), gostava de falar de
assuntos que fugiam de nosso propósito como missionários (inclusive sobre
pecados passados, os quais ele parecia se regozijar), não cumpria horários e não
vivia alguns padrões. Descobri, mais tarde que ele falava mal de mim e que
estava indigno (tanto que não permaneceu nem duas semanas no campo missionário,
tendo que voltar para casa para arrepender-se). Ele até chegou a quebrar regras
sérias no CTM, como sair do CTM seu o companheiro.
Jejuei duas vezes e busquei a ajuda do Senhor.
Escrevi para meu presidente de ramo, solicitando ajuda. Ele respondeu dizendo
que eu poderia me tornar uma dos melhores missionários de minha missão, mas
para isso, deveria aprender com essa experiência. Procurei seguir seu conselho.
Procurei servir meu companheiro e exercer a caridade - que "tudo sofre,
tudo crê, tudo espera, tudo suporta" (1 Coríntios 13:7).
Élder Pereira tinha dificuldades, mas com o tempo
comecei a ver que ele tinha qualidades. Assim, procurei focar no que ele tinha
de melhor. Quando ele conversava comigo, o que era raro, eu ouvia atentamente -
mesmo que não era, a princípio, o tipo de assunto que eu desejava ouvir.
Percebi que ele tinha admiração pelos missionários americanos, pelo fato de que
foram missionários estrangeiros que lhe haviam levado o evangelho. Quando
partimos para o campo senti certo alívio, pois receberia um novo companheiro -
todavia, minha relação companheiro de CTM era sem dúvida melhor do que fora no
inicio. Quando soube que élder Pereira fora embora fiquei triste pois sabia
que, muito provavelmente, ele não voltaria para o campo missionário, e talvez,
viesse a se afastar da Igreja.
Caderno de Companheirismo
Meu treinador era um missionário diligente, obediente
e sábio. Ele tinha todas as características que eu imagina que um missionário
deveria ter. Ele criou um bom alicerce para minha missão, ensinando-me muito
bem. Ele sonhara que iria ser o treinador de um tal élder Guerreiro. Eu e ele
fomos enviados para "abrir área" - o que significava que o lugar
estivera sem missionários por muito tempo e tínhamos que começar o trabalho do
zero.
A obediência as regras e mandamentos é um ponto
importante para estabelecer o relacionamento que o Senhor espera. Meu treinador
mostrou isso. Todavia em algum momento, devido a uma situação que não recordo
detalhadamente - mas que envolvia um pesquisador - se deixaríamos de ensiná-lo,
por não estar progredindo (e eu não queria deixar de ensiná-lo) - discordamos.
Eu fiquei bravo com meu companheiro e ele comigo. É fácil perceber quando os
missionários estão irritados um com o outro: eles não andam um do lado do outro!
E assim estávamos naquele dia, ele na frente, e eu atrás. Naquele momento
Satanás, "que leva cólera ao coração dos homens, para contenderem uns com
os outros" (3 Néfi 11:29), tentou-me para que eu odiasse meu companheiro e
até fizesse algo ruim com ele. Claro que eu não riria matar meu companheiro -
mas deu vontade!
Imediatamente reconheci aquele sentimento ruim, e
percebi que não vinha de Deus. Arrependi-me. Meu companheiro e eu conversamos.
A conversa, notei, é muito importante para que o companheirismo tenha sucesso.
Naquele dia tomei uma atitude. Tive a inspiração de
criar um "caderno de companheiros". Nele, prometi a mim mesmo,
escreveria algo de bom que vira meu companheiro fazer durante o dia. Assim toda
noite, eu registrava algo. Foi uma experiência interessante. Meu companheiro
não tinha muitos defeitos, mas eu não queria ter aquele sentimento oura vez,
por isso fiz o caderno.
Escrever algo bom sobre meu companheiro não foi tão
fácil no começo, exigia que eu prestasse mais atenção. Algumas ocasiões eu era
bem genérico dizendo que meu companheiro ensinara e orara. Mas com o passar dos
dias comecei a descobrir o quão abençoado eu era em estar na companhia de
alguém tão bom. Comecei a ver que meu companheiro servia sem relutar, uma vez
durante uma forte chuva, dou seu guarda-chuva a alguém na rua, preferindo molhar-se
em vez de ver outro correr risco de ficar doente. Inclusive ele era alguém que
não ficava doente - porque mesmo enfermo saia para trabalhar. Ele era digno de
confiança e nunca, nunca, conheci alguém mais dedicado a obra. Ele amava
estudar as escrituras. Enfim, não há como relatar tudo de bom que vi e senti.
Só gostaria de dizer que a medida que fui percebendo coisas tão boas em meu
companheiro as cosias ruins começaram a desaparecer. De fato, elas
desapareceram nele, mas apareceram em mim! Entendi que eu perdera muito tempo
vendo o erro alheio - tinha que me preocupar com minhas próprias falhas - e
quando parei de ver os defeitos de meus companheiros, passei a ter mais tempo
para trabalhar com meus próprios.
Não usei sempre essa "caderno de companheiros"
- mas recorri a ele em outros companheirismos, quando eu percebia que estava
bravo ou vendo algum defeito naquele que o Senhor dissera que deveria estar ao
meu lado.
Como ensinou o Salvador: " Não julgueis, para
que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados,
e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós. E por que
reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que
está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu
olho, estando uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e
então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão. (Mateus 7:1-5)
Com os outros companheiros aprendi lições
importantes, que levarei por toda vida. Eles eram bem diferentes uns dos
outros. Com alguns me dei muito bem logo de inicio - eles pensavam e agiam de
forma muito parecida comigo. Outros não compartilhavam das mesmas ideias e
interesses em geral. Claro, todos eram comprometidos com a causa de Cristo. Por
exemplo, alguns companheiros não compartilhavam sua comida, dividiam os
armários da casa e até os compartimentos da geladeira - e deixavam bem claro:
"minha comida é minha
comida!". Com outros companheiros eu podia dividir tudo que tinha e
comprávamos e nos alimentávamos juntos, consagrando uns aos outros o que
tínhamos. Alguns não gostavam de arrumar a casa, outros eram sumamente
organizados e asseados. Alguns estavam terminando a missão e outros eram novos
e energéticos. As diferenças eram muitas, mas, aprendi que não geravam
divergência - a menos que eu permitisse.
Princípios para um Companheirismo de Sucesso
Alguns princípios, que eu chamo de princípios para um
companheirismo de sucesso, me ajudaram. Fui aprendendo sobre eles gradualmente
durante minha missão:
1.
Servir
- para amar seu companheiro você deve servi-lo. Você pode começar orando para
que o Senhor lhe mostre como melhor servir seu companheiro (Morôni 7:48).
Depois você pode arrumar a cama dele, engraxar seus sapatos, ouvi-lo com amor e
sem julgar, elogiá-lo por algo bom que ele tenha feito ou dito, encorajá-lo,
passar sua roupa, etc. Há muitas maneiras de servir. Se você estiver disposto o
Senhor lhe mostrará as oportunidades. O amor, que é um dom, virá, quando você
servir com real intenção - como o Salvador faria se estivesse em seu lugar.
Esse amor vai lhe trazer paciência, esperança, tolerância, perdão e fé.
2.
Ceder
sempre, exceto na obediência - meu presidente de missão ensinou-me esse
importante princípio, que mudou minha atitude para sempre. Às vezes meu
companheiro queria ensinar uma lição ode um jeito, que eu pensava não ser tão
adequado. Mas o que importava? Não era mais importante ensinar e abençoar
as pessoas do que discutir qual a melhor maneira de fazê-lo? Afinal não é o
Espírito o verdadeiro professor? Como teríamos o Espírito se estivéssemos em
discórdia? Eu cedia em toda opinião, procedimento, ideia e ato que não
correspondia as minhas expectativas, mas que essencialmente não era ruim ou
pecaminoso. Deixava meu companheiro fazer do jeito dele, da maneira que ele
entendia ser a melhor. Essa atitude submissa e humilde não significa que eu não
tomava decisões, não defendia meu ponto de vista e não defendia a verdade. E
nem que sempre tínhamos opiniões adversas. Na maioria das vezes pensávamos
e agíamos com evidente harmonia. Mas se houvesse algo
antagônico, depois de conversarmos, e se meu companheiro persistia em sua
resolução, eu cedia. Apenas não cedia em assuntos relacionados a obediência.
Por exemplo: se meu companheiro queria ficar ensinando alguém até tarde da
noite, depois do horário designado para retornarmos para casa, eu me interpunha
e era forte com relação às regras. Mas fora a essas questões - de obediência -
percebi que eu poderia ceder e seguir o que ensina o Mestre em Mateus 5:38-48[4].
3.
Estudar
juntos - companheiros que estudam juntos tem experiências espirituais
juntos. Isso cria um elo que tem imensa consequência positiva no ensino do
evangelho. Até posso dizer que companheiros que estudam as escritura juntos, e
se preparam para ensinar as pessoas, treinado as lições e estudando o Pregar Meu Evangelho, raramente tem
problemas de relacionamento. Os missionários que estudam juntos ensinam a uma
só voz, tem o ensino mais vigoroso, não caem na rotina, estão sempre "prontos
para seguirem um ao outro para não impedirem a orientação do Espírito"
("Ensinar com seu companheiro em união", PME, pg. 193). Além disso,
você pode aprender com os companheirismos mencionados nas escrituras, tais
como: a perfeita unidade entre o Pai e o Filho (João 10:30), o trabalho em
união de Alma e Amuleque (Alma 8-16), as
viagens de Paulo e Barnabé (Atos 13-15), etc.
4.
Conversar
Bastante - você tem que falar com seu companheiro. Precisa ouvir seu
companheiro. Ambos precisam estabelecer uma boa comunicação. Mas não converse apenas sobre o evangelho. É
verdade que esse deve ser o assunto principal. Quando eu cheguei na missão, por
exemplo, achava que seria até pecado ficar falando sobre assuntos que não
tinham haver com o ministério. Embora devamos ser sábios e focar na obra,
conversar sobre coisas boas, que não tenham relação direta com a missão não faz mal. Por exemplo: deseje saber o que
seu companheiro gostava de fazer antes da missão, qual seus hobbies, qual sua
formação, como esta sua família, como ele se converteu, se há alguma moça (ou
algum rapaz, no caso das sisteres) lhe esperando, quais foram suas aventuras
antes da missão. Evidentemente não é adequado conversar sobre transgressões
passadas. E não é bom cantar músicas que não tenham haver com a missão e falar
de coisas, que embora não sejam ruins, não edificarão o serviço missionário.
Além disso, algumas conversas que tem o propósito de edificar o relacionamento
podem se tornar o assunto principal - e mesmo que isso fortaleça a amizade, vai
prejudicar o ensino e o Espírito. O segredo é achar um equilíbrio. E esse
equilíbrio é achado quando se coloca Deus e sua obra em primeiro lugar.
5.
Entender
que Deus determinou que vocês estivessem juntos - tenho um testemunho de
que as "transferências" e troca de companheiros na missão ocorrem de
acordo com a vontade de Deus. Por isso o Senhor sabe quem devem ser seus
companheiros. Aceite com alegria todos os companheiros, pois Deus quer que você
aprenda algo com eles. Talvez você será o missionário que vai mudar a vida de
seu companheiro. Talvez ele vai ser o missionário que vai lhe salvar,
mostrando-lhe coisas, que de outra forma ou com outro companheiro, você não
veria. Tudo é determinado e controlado, e não existe coincidências. Há, sim,
pequenos milagres. E muitos destes se verificam nos relacionamentos
determinados pelo Senhor. Aproveita cada companheiro.
6.
Bom-Humor.
As pressões do serviço e as dificuldades do relacionamento precisam de uma
válvula de escape. Alguns acham essa válvula na ira. Essa é uma péssima ideia.
Ficar bravo só gera maus frutos. Pelo contrário, o riso e o bom-humor, é
saudável e edifica. Não significa que você deva tirar sarro de seu companheiro,
humilhá-lo ou ser leviano. Mas vocês podem se divertir juntos e rir das
situações que lhe acontecem. Você vai ver que até as tragédias lhe serão motivo
de riso. Não por que estão desesperados, loucos ou alienados. O bom-humor lhes
permitirá transformar os enganos, decepções e frustrações em contentamento e
alegria. Deve-se ser sério com os assuntos de Deus "Muito riso é
pecado" (D&C 59:15). Mas sempre há espaço para ser feliz.
7.
Tratar
o outro como você espera que ele se tornasse. Penso que Deus é capaz de ter
grandes expectativas a nosso respeito e confiar tantos dons a nós - como o
sacerdócio, uma família, um chamado especial dentro de seu evangelho, etc. -
porque conhece a verdade. A verdade é o conhecimento das coisas como foram,
como são e como serão. Deus não nos vê somente como seres mortais, finitos e
insignificantes - menos ainda que o pó da Terra - mas nos vê como seres
gloriosos - seus filhos e filhas, que herdarão a Vida Eterna.Embora não
tenhamos essa visão, podemos exercer fé e ter esperança de que nosso
companheiros se tornarão homens em mulheres de fé, grandes líderes na comunidade e na Igreja,
pais e mães que criarão uma posteridade para o Senhor - podemos imaginar eles
revestidos de glória no lar celestial, em sua exaltação, ao lado do Pai. E se
conseguirmos pensar neles assim, reconhecendo que eles são verdadeiros filhos de
Deus, teremos o devido respeito e cuidado ao interagir com eles. Os erros e
falhas serão, por nós, ignorados ou tratados com misericórdia - as virtudes
serão realçadas. Teremos uma atitude positiva com relação ao próximo. Se você
conseguir obter essa visão vai se sentir bem consigo mesmo e ter sucesso em
quase todo companheirismo. Nunca fale mal de seu companheiro. Expresse sempre
seu amor e elogie-o com frequência. Pode ser que você, por tratar seu
companheiro como Deus o trataria se estivesse em seu lugar, será a salvação da casa
dele - e quão grande será sua alegria por causa disso!
Duas advertências
Desejo fazer duas advertência: (1) cuidado com os
rótulos e (2) confiança é melhor que amizade.
Uma vez, numa troca de companheiros, fiquei sabendo
que um certo élder seria meu novo companheiro. Outros missionários, ao saberem
disso me disseram que ele era chato, exibido e orgulhoso. Do jeito que falaram
me pareceu-me que seria um companheirismo bem difícil. Criei uma imagem de meu
futuro companheiro nada boa. Meu companheiro atual, que estava prestes a ser
transferido, entretanto, desmentiu os outros missionários - e disse-me que meu
próximo companheiro seria muito bom. E ele estava certo. Meu novo companheiro
era energético, generoso e muito feliz. Tivemos uma ótima experiência juntos.
Ele me ensinou muito e apreciei os momentos que estivéssemos juntos. Aprendi
que não devemos rotular as pessoas, principalmente para outras pessoas:
descrevendo negativamente os outros. É sempre melhor ter uma perspectiva
otimista sobre o próximo, especialmente sobre os companheiros - e nunca falar
mal deles aos outros. Nem sempre é fácil domar a língua - mas é possível
enchê-la de coisas positivas e fugir da fofoca e maledicência.
Às vezes sua amizade com seu companheiro estará em
crise, ou ficará prejudicada, devido a uma má atitude dele. Por exemplo, pode
ser que ele queria pecar ou quebrar uma regra. Nesse caso, você deve ser
lembrar que sua fidelidade é primeiro a Deus e a seus convênios. Assim, mesmo
que seu companheiro fique chateado a principio, mantenha uma posição firme com
relação a obediência. Conte a seu presidente de missão qualquer problema que
sentir que deve contar. Seja digno de confiança. Expresse amor a seu
companheiro, mas deixe claro que você serve a Deus. Tive que tomar essa medida
algumas ocasiões, deixando bem claro a meu companheiro que se ele fizesse algo
errado eu imediatamente contaria ao presidente de missão. Meu companheiro na
ocasião ficou bravo comigo. Eu não queria que isso acontecesse, mas eu estava
determinado a obedecer as regras e não perder o Espírito. Depois que deixamos
de ser companheiros nossa amizade se fortaleceu sobremaneira - sim, ficamos
mais amigos do que éramos quando companheiros de missão. Acho que isso se deve
não porque deixamos de conviver 24 horas, mas porque ele e eu aprendemos
algumas coisas, inclusive que o companheirismo é uma relação onde Deus esta
envolvido - e nossa fidelidade deve ser primeiramente a ele.
Deus, seu companheiro e você. Três. Essa é uma
relação adequada. Se você e Deus estiverem dispostos a fazer com que o
companheirismo tenha sucesso há grande chance de isso tornar-se realidade.
Embora seu companheiro tenha o arbítrio, ele sentirá sua preocupação, empenho e
fé. Ele será motivado e persuadido e com o tempo, moldado. A transformação leva
tempo, mas se Deus estiver contigo tudo acabará bem.
Mude e verás milagres
É verdade que às vezes o "problema" do
companheirismo não repousa no companheiro - mas em você. E se for esse o caso
dificilmente você perceberá por si mesmo. Você necessitará de humildade. Peça
que seu companheiro o ajude. Diga que quer melhorar e ouça com atenção.
Estabeleça metas e melhore. É difícil ouvir sem racionalizar. Não justifique-se,
apenas ouça e mude. Os milagres no companheirismo começarão quando o Espírito
encontrar lugar. E ele encontra lugar em um companheirismo onde há confiança e
desejo de melhorar e aprender.
Uma vez, quando era missionário, fui almoçar na casa
de uma irmã menos-ativa que havia servido missão. Ela contou, de modo sério,
que sua missão fora muito ruim - que só tivera péssimas companheiras - e que
todos os defeitos de suas companheiras estavam presentes em seu marido. Depois
do almoço, eu e meu companheiro chegamos a conclusão de que aquela mulher era o
problema, porque, conforme explicou
meu companheiro na ocasião: "é impossível que todas as companheiras dela fossem tão ruins como ela falou."
Agora, não importa se você tem mais experiência na
missão, mais tempo na Igreja ou mais sabedoria. Seja modesto e faça com que seu
companheiro saiba que sua opinião é importante para você.
Use as ferramentas do inventário de companheirismo
ensinadas no Pregar Meu Evangelho.
Leia I Coríntios 13 e D&C 121, pois isso pode ajudar. Ademais siga o
Espírito. O Senhor, seu Presidente de Missão, os profetas, os membros da
Igreja, seus pais e os conversos que você encontrou e encontrará desejam-lhe
sucesso. Esse sucesso depende muito do relacionamento que você desenvolver com seu
companheiro. Siga ao Senhor e tudo correrá bem!
Quando minha mãe era uma jovem missionária do Sul do
Brasil ficou conhecida por sua diligência e energia. Ela, Sister Moura, levou
dezenas, se não centenas, ao conhecimento da verdade. Ela ensinava com poder e
trabalhava duro. Um dia, durante a missão, ela recebeu uma nova companheira.
Essa companheira pareceu ser um obstáculo ao progresso da obra, pois
"andava muito devagar". Além da lentidão, sua companheira não tinha
hábitos adequados, comendo muitas vezes com a mão. E também ela não decorara as
palestras. Aparentemente essa sister fazia tudo muito lento, e por causa disso,
supunha minha mãe, os resultados de número de palestras, contatos e batismos decaíram.
Sister Moura ficou frustrada. Como poderia trabalhar
duro, e dar o seu melhor, com uma companheira tão lerda, ignorante e
despreparada? A culpa da falta de progresso era certamente de sua companheira,
porque antes a obra avançara incomensuravelmente.
Na primeira oportunidade Sister Moura comunicou o que
estava acontecendo a seu presidente de missão e ainda lhe pediu para ser
transferida, ou pediu que ele transferisse a sua nova companheira - pois juntas
a obra evidentemente não fluía, na verdade regredia!
O Presidente escutou com atenção, mas por fim lhe disse: "Isso não esta
certo. Você precisa mudar sister Moura. Precisa estar a altura de sua
companheira. Ande junto com sua companheira". Realmente, devido a seu
ritmo acelerado Sister Moura sempre estivera a frente de sua companheira,
andando mais rápido e adiantando-se nas tarefas. Mas ela não pensara que isso fosse
um grande problema, afinal só estava procurando fazer seu melhor. Ela também
ficou espantada com o conselho, porque estava certa que quando o presidente
ouvisse sobre a falta de progresso tomaria uma atitude - uma atitude que
certamente implicava na transferência de uma missionária ou de outra. Mas, pelo
contrário, o presidente dera um simples conselho.
Sister Moura, obediente, seguiu o presidente. Ela
esforçou-se para andar com sua companheira. Quando percebia que estava à
frente, ela parava, esperava sua companheira e diminua o ritmo, para andar
junto. Quando começaram a andar juntas, as missionárias começaram a conversar. Antes
apenas falavam umas com as outras (provavelmente apenas o essencial), mas não
conversavam. Todavia quando começaram a conversar passaram a se conhecer.
Minha mãe, Sister Moura, descobriu, com essas
conversas, que sua companheira andava tão devagar por causa de feridas crônicas
que tinha nos pés. Descobriu também outras coisas, como porque ela tinha
hábitos alimentares diferentes. Ela passou, inclusive, a admirar essas hábitos
e a comer como sua companheira!
Tudo isso a levou Sister Moura a pensar quão
orgulhosa havia sido. Ela humilhou-se e desfrutou de um ótimo companheirismo.
Se você perguntar hoje a minha mãe qual foi sua melhor companheira na época da
missão ouvirá como resposta o nome desta sister que lhes conto - e mesma, que a
princípio era uma pedra de tropeço para o progresso da obra, por sua lentidão. Essas
duas sisteres - quando fortaleceram umas as outras e começaram a trabalhar
juntas - viram milagres: as palestras aumentaram e os batismos vieram. A obra
seguiu avante com poder e glória.
Eis
a Moral da história (e deste capítulo): "Ande junto com seu companheiro,
pois ele foi chamado por Deus para estar com você e realizar muito de bom -
tanto na sua vida, como na vida de outras pessoas".
[1] Élder e sister são títulos de missionários de
tempo integral. Respectivamente significam "ancião" e
"irmã". Um missionário de tempo integral é chamado de élder
seguindo-se, então, seu sobre nome. Por exemplo, eu fui Élder Guerreiro na missão. O mesmo se dá com as missionárias:
sister, seguido do sobrenome.
[2] Embora não seja tão próprio, os missionários jovens em geral
mantém gírias, tais como "filho" (para missionários novos que são por
eles treinados), "pai" (para referir-se ao treinador),
"verdinho" (missionário novo), "fubeca" (missionário
relaxado e que não cumpre regras ou lhes dá valor), etc. Há outras gírias que
surgem de tempos e tempos. Ao mencionar isso esclareço que não é adequado um
missionário usar gírias, mesmo quando há apenas outros missionários, como a
regra do Manual do Missionário estabelece.
[3] Fui companheiro de um élder que tinha apenas um ano como membro e
era espetacular em seu serviço. Conheci vários outros, como instrutor no CTM,
que haviam sofrido uma rápida, porém poderosa transformação, semelhante ao que
aconteceu com Enos (Enos 1) e Alma, o filho (Mosias 27).
[4] "Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente.
Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face
direita, oferece-lhe também a outra; E, ao que quiser pleitear contigo, e
tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; E, se qualquer te obrigar a
caminhar uma milha, vai com ele duas. Dá a quem te pedir, e não te desvies
daquele que quiser que lhe emprestes. Ouvistes que foi dito: Amarás o teu
próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos,
bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que
vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos
céus; Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça
sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis?
Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos
irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? Sede vós pois
perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus." (Mateus 5:38-48)
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